segunda-feira, 1 de março de 2010

O refúgio 2


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O Refúgio
Level 2
A 50º redação!

Sob esta colina verdejante, observo o mar de luzes da cidade. Tremeluzindo por entre meus olhos, elas se perdem ao longo do horizonte. A brisa estival entorpece todo o meu corpo. Uma sensação de paz permeia entre o antigo abismo que em mim habitava.
Paro. Sinto.
É a paz interior. Consigo ouvir o ar irromper nos meus pulmões. A simplicidade me contagia.
As enferrujadas engrenagens de minha alma agora são consertadas. A todo vapor, esqueço de tudo. De meu passado, das obrigações que se acumulam a cada dia, e do trabalho fastidioso.
A fadiga, antes consumindo-me em todos os momentos, foi-se embora. Como uma gaivota, seguindo seu destino incerto.
Nunca me cansarei desta vista...

***
Eu ainda me lembro do dia em que resolvi gritar. Gritar para essa vida medíocre. Afinal, como poderia esquecer?
Na plenitude de minha solidão, caminhava por entre a minha rotina do lar.
No fim daquele corredor que nunca visitava, a solução para tudo ali repousava. Lá estava ela, largada, esquecida.
-- Ok, ok. É só uma bicicleta. Mas...Deixe-me contar! --
Lembro, com um sorriso em minha face, da minha doce infância. Tudo era tão simples, tão inocente...
Como um moleque travesso comum, eu sempre estava acompanhando de minha fiel magrela. Passeava com ela quase todos os dias. Com os amigos, desbravava o mundo ainda virgem, com inúmeras descobertas pela frente. Brincávamos de ingênuas corridas com as tais bicicletas. Lembro de, um dia em especial, em que fomos até uma famosa cachoeira da cidade. Nos divertimos “à beça”, como costumava dizer.
Ah, a nostalgia é tão contagiante!
Enfim, foi neste período de minha vida em que a paixão pelas duas rodas se iniciou.
Pedalar reativa minhas boas reminiscências. É uma sensação que pode ser comparada a liberdade. Absoluta.
E foi assim que, repentinamente, voltei àquela velha paixão. Esperançoso, fiz os ajustes necessários na bike. Entretanto, a euforia levou-me a esquecer de um problema.
Como arrumaria tempo? Vivo para trabalhar, em uma rotina interminável. Outras obrigações me tomam todo o tempo restante. Aos fins de semana, viajo para minha cidade natal a fim de rever a família.
Foi então que soube, milagrosamente, de um grupo que praticava moutain bike de madrugada. Pois é. Essa metrópole me assusta. Quem iria imaginar?
Percorremos as estradas rurais, que estão em vias de extinção, algumas vezes por semana. Andamos também, pelas vias tradicionais, tão vazias esta hora do dia. A equipe, por assim dizer, é muito unida.
***
Entre o fluxo dessa cidade que nunca pára, reflito. Depois desta transformação, começo a reparar mais no imenso cinza que meus olhos não conseguem acompanhar. Sinto como se nunca tivesse, realmente, olhado a metrópole como um todo. Com a brisa em minha face, consigo perceber a identidade de tudo isto. Eu posso sentir a cidade.
Em meu refúgio, consigo a paz interior. E a compreensão da sociedade, com suas infinitas peças, como um quebra-cabeça. Tais peças se juntam, de um forma complexa.
Mas, ao mesmo tempo,
Tão simples!
Intermináveis pontos de luz fundem-se com a quietude de uma alma feliz. O céu estrelado, uma buzina ao longe, o cantar de uma cigarra. Quantas coisas acontecendo!
O refúgio de meu coração é de uma intensidade inexplicável. Começo a me perder por entre este mar luminoso. Um arrepio me percorre,
A paz. A liberdade.
Nunca me cansarei desta vista...
Bruno Cunha
18/09/08

2 comentários:

  1. Nem preciso dizer que gostei né? ;)
    Me lembrou muito aquelas conversas que a gente costumava ter sobre a vida urbana, luzes da cidade, Hopper e afins =P

    Muito bom!

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  2. eu tinha me esquecido, ou quando li num tinha prestado atenção como deveria. Só por descrever o sentimento de liberdade transmitido ao pedalar, já me cativou. E, cara, acho que essa, se não a melhor, é uma das melhores crônicas q vc ja escreveu.

    abração

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